segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Quebrando Preconceitos

Depoimento das leitoras Lúcia e Carolina, de Portugal, a Equipe Uirapuru agrade imensamente pelo carinho!


"Oi, Alexandre

Eu sou a Catarina que mora em Lisboa, lembra-se de mim? Eu estive na tua seção de autógrafos no dia que você estava lançando seu livro na FNAC da avenida Paulista. Eu estava com a minha irmãzinha Lúcia, que pediu para eu comprar o teu livro para autografar.
Nós estávamos a passeio no Brasil, visitando a nossa família que não víamos há mais de quatro anos, desde que vim trabalhar em Portugal. Lúcia agora está com sete anos e sempre foi uma leitora precoce. Ao ler o teu livro ela pediu algo que jamais imaginei que uma criança poderia querer: Quero conhecer uma favela igual a do livro!
Eu tentei desconversar, pois nem mesmo com os meus 26 anos de idade jamais pensei na possibilidade de conhecer um lugar tão perigoso. Na hora eu condenei o teu livro, mas ao lê-lo senti uma dor no coração, pois eu estava sendo preconceituosa em todos os sentidos. Entenda, muitas vezes o preconceito é imposto e não algo nato ou oriundo de uma experiência ruim. Sou de uma classe social privilegiada, sempre fui, e obviamente convivi com pessoas que pensavam da mesma forma que eu, por isso, o pedido de Lúcia me fez refletir: Por que uma criança de sete anos se interessaria por uma favela?
Quando perguntei os motivos de Lúcia, ela respondeu que queria conhecer pessoas como o João e a Suélen.
Mais uma vez meu pré-julgamento estava falando mais alto. Ela não queria conhecer a favela, mas sim as pessoas de bom coração que ali vivem.
Insisti e perguntei o porquê dela se interessar pelas pessoas da favela e ela me surpreendeu outra vez mais dizendo que o João era igual ao Fernando do desenho Rio, um menino que precisava de amor, porque ele não era mal, as pessoas é que viam maldade nele.
Assisti ao filme Rio, do Carlos Saldanha, uma vez mais e depois li o livro O Menino, a Goiabeira e a Porta-bandeira junto com Lúcia. Desta vez era eu que queria conhecer a favela e aprendi que eles agora chamam de comunidade.
Na semana seguinte mudei os meus planos, troquei as minhas passagens de volta para Lisboa e fizemos uma escala no Rio de Janeiro, fomos conhecer o morro do Vidigal. Foi uma experiência incrível! Comemos pastel, tomamos suco, tiramos fotos com as pessoas de lá e vimos no olhar de muitas o mesmo brilho dos olhos de João e Suélen. Lúcia quis tirar várias fotos ao lado de meninos e meninas que se pareciam com os personagens de sua história e do filme Rio.
Dois dias depois chegamos a Lisboa, minha irmã contou encantada tudo que viu, que conheceu, que aprendeu para seus amiguinhos, mostrou fotos, o teu livro e, mais uma vez leu a sua história e assistiu ao filme. Com certeza teu trabalho nos ajudou a derrubar alguns preconceitos tão banais como o social e o racial. Em outras palavras, entendi que o preconceito é sinônimo de falta de conhecimento."

Carolina e Lúcia – Lisboa – Portugal


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